sexta-feira, 25 de novembro de 2011

“O Senhor vem”, ficai da vigia.

(Mc. 13,33-37)

O Evangelho nos coloca diante de uma certeza fundamental: “o Senhor vem”, ficai de vigia, a nossa caminhada humana não é um avançar sem sentido ao encontro do nada, mas uma caminhada feita na alegria ao encontro do Senhor que vem.
Irmãos, a espera não se trata de uma vaga esperança, mas de uma certeza baseada na palavra de Jesus. O tempo de Advento recorda à realidade de um Senhor que vem ao encontro dos homens e que, no final da nossa caminhada nesta terra, Ela nos oferecerá a vida definitiva, a felicidade sem fim.

Amados, o tempo do Advento é o também da espera do Senhor. O Evangelho de Marcos nos diz que devemos ter  está esperança… A palavra mágica é “vigilância”: o verdadeiro discípulo deve estar sempre “vigilante”, cumprindo com coragem e determinação, a missão que Deus lhe confiou.
Ouvintes e leitores, estar “vigilante” não significa, contudo, preocupar-se em ter sempre a “alma” limpa para que a morte não o apanhe com pecados por perdoar; mas significa viver sempre ativos, empenhados, comprometidos na construção de um mundo novo e de uma vida fincada no amor e na paz. 

A espera, significa cumprir, com  coerência e sem meios termos, não se afastar dos compromissos assumidos no dia do batismo.
Amados, vigiar é ser  sinal vivo do amor e da bondade de Deus no mundo. É dessa forma que devemos procurar viver em concreto. Estar “vigilante” significa não viver de braços cruzados, fechado num mundo de alienações  e de egoísmos, deixando que sejam os outros a tomar as decisões por nós.

Amados, nós não devemos transferir para  os outros a escolher dos valores aos que em nosso nome  devem governar a humanidade, isto, significa não me demitir das minhas responsabilidades e da missão que Deus me confiou quando me chamou à existência…
Estar “vigilante” é ser uma voz ativa e questionadora no meio da sociedade dos comuns, levando-os ao confronta - mento com os valores do Evangelho, ter coragem de denunciar.

Amados, lutar de forma decidida e corajosa contra a mentira, o egoísmo, a injustiça, tudo aquilo que rouba a vida e a felicidade a qualquer irmão que caminhe ao seu lado… 

O Evangelho recomenda a “vigilância” aos “porteiros” da comunidade – isto é, a todos aqueles a quem é confiado o serviço de proteger a comunidade das invasões estranhas. 
Todos nós a quem foi confiado esse serviço, sentimos que somos instituídos “vigias” para cuidar com amor dos irmãos que Deus nos confiou. Não devemos nos afastar das nossas responsabilidades e deixar que o comodismo e a preguiça nos dominem. 

Amém, Deus seja louvado!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

4/13 O Corpo, sacramento da pessoa


O sexo é inerente ao corpo, porém, este não pode ser entendido como um aspecto exterior da pessoa à maneira do platonismo que o trata como um peso, nem na perspectiva materialista que o trata como o tudo da pessoa. Temos de falar do corpo na unidade complexa que constitui uma pessoa humana. Desde sempre o mistério do ser humano está no facto de ele ser como que uma criatura intermédia: como os animais vive num corpo, como os anjos louva a Deus. [6] Com frequência pensou-se nesta complexidade numa perspectiva dualista, mas alma e corpo não são duas partes do homem, são o mesmo ser, a mesma unidade complexa. Como diz Geiger, referindo-se a São Tomás, “o homem não é apenas uma alma espiritual, nem apenas o seu corpo. Ele é um ser composto de um corpo, como princípio material, e de uma alma, como princípio formal. A união destes dois princípios é imediata, pois assegura a existência de uma substância una e única, não apenas a união e a colaboração de dois seres.” [7] 

O actual Papa introduz uma maneira de olhar para o corpo que mostra a sua importância e faz ver como qualquer dos dualismos, o espiritualista e o materialista, são contrários à verdade do homem. Explica que “o homem é um sujeito não só pela sua autoconsciência e autodeterminação, mas também na base do próprio corpo. A estrutura deste corpo é tal que lhe permite ser autor de uma actividade explicitamente humana. Nesta actividade o corpo exprime a pessoa.” [8] 

Em síntese, se o homem é imagem e semelhança de Deus, se o homem é uma unidade composta, não é este ou aquele aspecto do homem, mas a unidade total que tem um sentido teológico, que espelha a Beleza e a Verdade de Deus. É possível e necessário, nesta perspectiva, falarmos de teologia do corpo, porque o Corpo é, na expressão do Papa, sacramento da Pessoa, ou seja, tudo no homem, na unidade que o constitui é chamado a tornar visível o Mistério invisível de Deus. [9] Qualquer falar sobre o sexo que não tivesse isto em conta teria dificuldade em perceber o seu significado. 

Podemos aqui introduzir uma primeira referência à virtude da castidade, pois o que com ela se pretende é, exactamente, afirmar que tudo o que se refere ao sexo, assim como tudo o que se refere a qualquer aspecto do homem, só tem sentido quando tem em conta a dignidade e a totalidade da pessoa. [10]