quarta-feira, 31 de agosto de 2011

SEXO E IGREJA - CAPÍTULO PRIMEIRO


P. Duarte da CunhaConferência proferida no Congresso dos Médicos Católicos
(1/13 LIÇÕES) 


Eis-nos a falar de um tema “picante”. Toda a gente parece querer saber o que a Igreja pensa sobre o sexo, embora, também seja verdade que a maioria julga já saber. A ideia comum é de que a Igreja, em relação ao sexo, é contra. Liga-se a Igreja ao sexo através duma trama de proibições e limitações que tornam, nos tempos actuais de exaltação de autonomia individual, irrelevante o que a Igreja diz. Até os católicos, sem terem lido nenhum documento do Papa, o mais comum é julgarem saber o que a Igreja diz e, não raro, discordarem dessas ideias, de modo a não dar grande relevo ao ensinamento que é proposto. 


Uma das ideias dominantes é de que há uma evolução cultural, regra geral avaliada como positiva, à qual a Igreja também adere, embora, como é costume dizer-se, com atraso. A Igreja aparece atrás do “mundo”, mas, mesmo assim, a Igreja de hoje é muito mais aberta do que foi noutras épocas! Tendo como pressuposta esta evolução é fácil chegar-se à ideia da existência de vários ritmos na Igreja, os que avançam mais depressa e os que são de tendência mais conservadora. 



Não é difícil, por isso, encontrar católicos, sejam eles bispos, padres ou leigos, a dizerem coisas diferentes uns dos outros. Mas uma coisa parece unir todos os que olham para a realidade deste modo, quer estejam do lado dos progressistas quer se considerem conservadores, tratam das questões do sexo no âmbito do que se pode ou não pode fazer, e aí parece-me estar o busílis da questão. Julgo ser altura de deixarmos de discutir a partir de posições progressistas ou conservadoras. Todas estas questões têm que ver com a vida e com os comportamentos das pessoas, mas antes de mais com o significado que dão à sua vida e à vida dos outros, ao corpo e à maneira de ele ser compreendido na unidade da pessoa. O problema, por isso, não me parece ser olhar para o permitido e o vedado, mas para o significado do corpo e do sexo da pessoa humana. 


A maneira da Igreja tratar aquilo que se refere ao ser humano, embora nem sempre pareça, porque muitas vezes alguns dos seus adulterem isso, é a de que antes de se procurar saber o que fazer se deve saber o que é. Antes da ética está a ontologia. Antes do comportamento está a natureza. Só assim temos uma moral cristã. Também nas questões do sexo, antes de se saber o que é bom e o que é mau, o que é de promover e o que é de proibir, o que se deve ou pode fazer e o que não se pode fazer, é fundamental perceber de que se trata. Se falássemos apenas dos comportamentos faltavam-nos os critérios de avaliação, porque lhes faltaria o mais importante, que é saber o que está em questão, e o debate seria estéril, como tantas vezes acontece quando estamos a tratar das questões éticas [1]. 


O olhar da Igreja para o sexo tem que ver, antes de mais, com o olhar para o Corpo e para o seu significado, mas este olhar está dentro de um horizonte ainda mais vasto, tem que ver com o que é o homem. Significa que o sexo só pode ser entendido quando na base está uma antropologia, um olhar para a pessoa. Para encontrar e aprofundar o significado da realidade, sobretudo do ser humano, a Igreja aproveita tudo o que as várias ciências vão descobrindo sobre a verdade da natureza, mas ultrapassa tudo isso pela luz que lhe vem da Revelação.

Podemos encontrar muitas afirmações do Magistério, dos Teólogos e dos Padres da Igreja que, ao longo dos tempos, têm procurado aprofundar o significado e o modo de agir correcto no que se refere às questões do corpo. Poderíamos, então, estudar toda essa riqueza que certamente nos levaria a descobrir aspectos constantes e outros mutáveis. Como cada uma das intervenções papais e cada esforço teológico têm um contexto próprio, seria necessário perceber o que é circunstancial e o que é essencial. Depois desse trabalho teríamos de verificar em que sentido houve uma evolução e o que esta implicou quer no corpo doutrinal da Igreja, quer, sobretudo, no estilo de vida dos crentes. Este esforço, que tem sido feito por muitos, é importante e necessário, mas não cabe aqui nem eu seria a pessoa indicada para o fazer. [2] 

Estou certo que o estudo da História destas questões traria muitas surpresas. Alguns estudos têm sido feitos e mostram como a posição da Igreja se mantém constante quanto aos princípios e nunca temeu ser arrojada no confronto com mentalidades dominantes. Também hoje, ninguém nega que é a Igreja (pelo menos no nosso mundo ocidental) quem mais enfrenta a mentalidade dominante, numa clara mostra quer da sua liberdade quer da sua preocupação pelo homem real, que vai muito além de qualquer subserviência, nunca pactuando com o mundo e com a pressão da secularização. 

Proponho-me, aqui, apresentar aquela que me parece ser à perspectiva revolucionária da Igreja de sempre, mas, como nunca, agora tornada explícita pelo magistério de Karol Wojtyla. [3]
  

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