quarta-feira, 31 de agosto de 2011

DAI-NOS SENHOR, O DOM DA CURA (Lc 8, 43-48)

Pela intercessão de Sant’Ana, Você que está com problemas de estômago, vesícula, rim, coluna, dor de cabeça, problemas respiratórios, pressão alta, baixa ...( heroicamente o Pe. Govana, inicia sua pregação na novava de Sant'Ana 2011),  encontrará aqui a solução! Um milagre espera por você! Jesus vai te curar!

Quem de nós não escutou mensagens como esta? Vivemos um tempo em que a bíblia sagrada se tornou o manual predileto de histriões, charlatões, vendedores e falsificadores da Palavra. Neste supermercado religioso a religião se torna oferta de felicidade fictícia e mágica para todos os problemas.

Mas a cura, na Sagrada Escritura e na reflexão teológica cristã, tem um significado mais profundo.

Os evangelhos testemunham que Jesus encontrou um grande número de doentes, de pessoas afetadas por muitas doenças: doenças físicas (coxos, cegos, surdos, paralíticos), doenças mentais (os "endemoninhados" representam pessoas aflitas por epilepsia, esquizofrenia, isto é uma série de males cuja origem era atribuída a uma influência diabólica), handicap e enfermidades mais ou menos graves, crônicas ou momentâneas (leprosos, a sogra de Pedro que estava de cama com febre, a mulher que sofria de hemorragia). O encontro com esta humanidade sofredora, com os rostos desfigurados de tantos homens, levaram Jesus a aprender a arte da compaixão e da misericórdia, a aprender que a doença e a enfermidade constituem o "caso serio" da vida humana.

Os evangelhos evidenciam o fato que Jesus cura os doentes (o verbo grego therapèuein, “curar”, recorre 36 vezes, o verbo iàsthai, “sarar”, 19 vezes), e curar significa antes de tudo "servir" e "honrar" uma pessoa, ser solícito, dar atenção, cuidar dela. Jesus vê no doente uma pessoa, um ser único, uma criatura marcada pelo pecado, à procura de um sentido, animada pela esperança, aberta à fé, desejosa não somente de cura, mas de tudo aquilo que pode dar sentido à sua vida.

Encontrando os doentes, Jesus não prega a resignação, não é fatalista, nunca afirma que o sofrimento nos aproxima de Deus, não pede de oferecer nosso sofrimento a Deus: ele sabe que não o sofrimento, mas o amor salva! Jesus procura sempre devolver a integridade da saúde e da vida ao doente, luta contra a doença, diz não ao mal que desfigura o homem. Assim Jesus, "médico da carne e do espírito" (SC 5), fez das suas curas um verdadeiro evangelho vivo, um anúncio do Reino.

Além disso, Jesus se envolve profundamente com a situação pessoal dos doentes: sente compaixão, isto é, entra num movimento de co-sofrimento que o envolve emotivamente. Jesus se deixa ferir pelo sofrimento dos outros: ele se aproxima do doente também quando as precauções higiênicas (medo de contágio) e as convicções religiosas (medo de contrair impureza ritual) sugerem manter distância. Jesus não cura sem partilhar! Aos leprosos, doentes cuja vida era completamente transtornada, Jesus se aproxima, fala, toca, integra novamente no convívio humano e na comunhão com Deus. Assim Jesus demonstra que aquilo que contamina não é o contato com aquele que é considerado impuro, mas a recusa da misericórdia, da proximidade ao doente; ensina que não existe sujeira maior daquela que não quer sujar-se as mãos com os outros; revela que a comunhão com Deus passa através da misericórdia e da solidariedade com o sofredor. A atitude de Jesus para com os doentes mostra sim o poder divino que age nele, mas sobretudo a sua misericórdia.

Normalmente nós atribuímos as curas, relatadas pelos evangelhos, a Jesus. Uma leitura mais aprofundada dos textos evangélicos nos mostra que a cura é o resultado conjunto da ação de Jesus e da pessoa doente ou de outras pessoas, é o fruto da relação que se estabelece entre Jesus e a pessoa ou pessoas envolvidas. Nunca o ser humano é meramente passivo nos relatos de cura. A ele é exigido abrir-se à ação de Cristo e nisto a é central. O milagre assume assim una estrutura dialógica própria da salvação cristã, o encontro entre Cristo e o ser humano necessitado. A fé é o espaço e a possibilidade deste encontro. Afinal, a atividade terapéutica de Cristo médico consiste essencialmente em estabelecer uma relação verdadeira com a pessoa que está diante dele.

Vamos ver mais de perto o texto evangélico proclamado nesta liturgia.

v. 40 e 42 Jesus foi recebido pela multidão ... as multidões o apertavam.

Existe um seguir sem fé que aperta, esmaga Jesus. Muitos vivem em volta de Jesus sem, porém, chegar até ele. Não conseguem realizar um encontro profundo.

v. 43 uma mulher sofrendo de hemorragia há doze anos.

O sangue é a vida, quem o perde, morre.

Doze são os meses do ano e doze as tribos de Israel. Este número indica totalidade de tempo e de povo.

Doze anos de hemorragia que tornavam esta mulher impura e todas as pessoas que a tocassem.

v. 44: tocou na barra da roupa de Jesus.

O “contato” cura e faz viver, aproxima; a falta de relação isola, afasta. Tocar leva a uma comunhão real. A fé é um contato direto e pessoal com Deus em Cristo. Nos salva porque nos coloca em comunhão com aquele que é a nossa vida.

Nas civilizações antigas do Mediterrâneo existiam médicos e curandeiros. Diferentemente dos médicos profissionais, os curandeiros populares exerciam a própria profissão nas camadas mais pobres da sociedade. Através do toque estes curandeiros curavam todo tipo de doença. Jesus pertencia, de uma certa forma, a esta segunda categoria.

O toque representa um espaço simbólico de solidariedade entre o terapeuta e a pessoa doente. Jesus oferece sua força que cura e que, por sua vez, o doente recebe em seu corpo. Entre eles se estabelece um relacionamento vital, uma comunicação solidária que se torna fonte de vida. Jesus cura os doentes de maneira que possam voltar à vida normal. Não mais doentes, não mais excluídos, mas reinseridos no convívio social.

v. 45: Quem foi que tocou em mim?

Uma pergunta sem sentido naquele momento, mas não para Jesus e para a mulher, que experimentaram um toque diferente. Os discípulos não sabem distinguir entre apertar e tocar. Jesus, além de conduzir a mulher para o nível da fé, quer levar seus discípulos para o nível daquela mulher.

v. 47: A mulher, vendo que tinha sido descoberta, foi tremendo e caiu aos pés de Jesus.

A mulher se dá conta que foi descoberta. O medo toma conta dela porque sabia que o seu estar no meio do povo e a sua atitude tornavam todos impuros diante de Deus (cf. Lv 15,19-30). Por isso podia ser condenada e apedrejada. Apesar disso ela tem a coragem de assumir suas próprias responsabilidades. Saindo de si, revelando-se, falando a verdade se tornou uma pessoa nova, curada.

Antes foi por traz para tocar na barra da roupa de Jesus, agora está em frente a Jesus e cai aos seus pés para adorá-lo. É importante esta passagem “por trás” e “em frente”, este olhar direto nos olhos que Jesus provocou e que a mulher temia. Não é suficiente curar por “fora”, é necessário um diálogo que nos liberte e cure por “dentro”.

Conclusão

v    Somos todos chamados a tocar Jesus. Isto exige um aproximar-se confiante e um coração necessitado. Quem se achar auto-suficiente, nunca poderá tocar Jesus, talvez se lançará em cima dele, o apertará com a esperança de obter algo para si, mas não conseguirá tocar no manto da graça, porque ao centro de tudo foi colocada a sua capacidade e não o seu verdadeiro bem.

v    Somos todos chamados a entrar no seu mistério pascal. Jesus procura levar não somente a cura, mas a salvação: o poder de seus gestos de cura é o mesmo poder do evento pascal, que age graças a sua fraqueza, ao seu aniquilamento, à sua morte. Os relatos de cura deixam transparecer o custo, a fadiga das intervenções operadas por Jesus: não são intervenções mágicas, mas encontros pessoais, que exigem tempo e energias físicas e psíquicas como no caso da mulher que sofria de hemorragia. É na fragilidade humana que age a poderio de Deus: Jesus cura graças a sua morte e ressurreição. Cada cura remete para o único grande milagre que é a ressurreição. Atrás de cada cura se projeta a silueta da cruz e do seu paradoxal poder salvador.

v    Somos todos chamados a viver em comunhão com Jesus: por Cristo, com Cristo e em Cristo.

         Porque Jesus quer que esta mulher confesse publicamente sua doença e aquilo que ele fez? Porque Jesus quer que saia do anonimato?

Ser curados é bonito, mas viver em comunhão com Ele é mais bonito ainda. Jesus convida a mulher a passar através da sua morte, a viver esta humilhação pública, para descobrir que somente ele a liberta, somente ele pode oferece uma vida nova, uma vida plena.

É neste sentido que, também nós, hoje, queremos pedir: Dai-nos Senhor, pela intercessão de Sant’ana o dom da cura!

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